Machismo x Shoujo, como um afeta ao outro?
O Machismo e o Shoujo
O machismo, infelizmente, é algo que está presente na vida e cotidiano de todas nós, mas você já parou pra pensar como ele afeta também as demografias femininas? Neste texto estaremos discorrendo sobre assunto e tentando principalmente entender essa questão.
Primeiro, deixem-me contextualizar vocês, recentemente na França um blog publicou um texto (que foi traduzido pelo Lacradores Desintoxicados) chamando atenção para o fato de que muitos mangás Shoujos quando vão ser publicados por lá passam por uma súbita mudança de demografia, e eu digo súbita para não dizer outra coisa, porque não faz absolutamente o minimo de sentido um mangá que nasce originalmente numa revista Shoujo, de repente passar a ser Seinen. Um caso bem conhecido é o de "Requiem of the Rose King" (Baraou no Souretsu), um mangá que originalmente é publicado na revista "Monthly Princess", mas que curiosamente quando foi publicado na França, foi categorizado como Seinen e vendido assim pela editora e segundo informações, esse fenômeno ocorreu devido ao fato de que, segundo a tal da editora, se o mangá fosse indicado como sendo Shoujo, ele não venderia.
Logo podemos observar duas coisas: a primeira é que esse fenômeno tem como desculpa aquela velha fábula de que "Shoujo não vende", que por várias vezes já se provou uma grande bobagem, visto que não faltam Shoujos que venderam muito bem tanto no Japão quanto fora dele (vide "Nana", um dos mangás mais vendidos do mundo). A segunda coisa que podemos observar é que esse problema também se escora na triste estigmatização sofrida pelas demografias femininas e seu público. O Shoujo por ser direcionado para mulheres mais jovens sofre muito com o pensamento de que nesta demografia não cabem histórias mais profundas e maduras, que abordem assuntos sérios e/ou não contemplem o romance, histórias essas que muitas vezes rompem com o estigma de que "Shoujo é só romance escolar água com açúcar". É aqui que entra o machismo, no simples pensamento de que só porque é para garotas, automaticamente não pode fugir do que é considerado "coisa de menina" e o que seria coisa de menina? "Histórias leves, limpas, podadas e com a profundidade de um pires, visto que são romances e, ah, romance é bobo, coisa de menininha!", vocês percebem o quão sem noção é esse pensamento?
Historicamente, tudo que é tido como feminino sempre vai ser considerado inferior ao que é tido como masculino, por isso existem muitas pessoas por aí postando bobagem sobre como "Shounen é muito superior ao Shoujo porque blablablabla e não sei o que lá" e infelizmente não posso dizer que eu fico surpresa quando vejo coisas assim. O machismo é um problema estrutural a nossa sociedade como um todo e por estar profundamente enraizado neste mundo, ele acaba afetando negativamente em grande parte dos aspectos da nossa vida, nem quando buscamos algum tipo de entretenimento voltado para nós mesmas temos paz, sabe? E o mercado editorial acaba infelizmente colaborando com isso.
"De que forma, Pudim?" vocês podem me perguntar, mas a resposta é obvia, quando eles criam desculpas esdruxulas para o fato de quase não lançarem shoujo aqui, eles estão colaborando com o pensamento de que "Shounen é superior a Shoujo", quando eles lançam algum mangá e "esquecem" de divulgar como Shoujo ou fazem um selo específico pra dita demografia e escondem ele bem pequenininho na parte de trás do mangá porque "Se der muito na cara que é Shoujo, vai afetar negativamente as vendas" eles não só colaboram com a falácia de que Shoujo não vende, como corroboram com o preconceito já sofrido pela demografia. Mas não vou me aprofundar muito em críticas ao mercado editorial, pois se eu fizesse isso teria que estar trazendo fontes e números, coisa que posso vir a fazer isso no futuro.
A essa altura do campeonato, já deve ter ficado claro que o machismo afeta o Shoujo pelo simples fato de que tudo que é voltado ás mulheres automaticamente já é tido como inferior, e essa visão acaba nos afetando também, pois por causa disso muitas vezes renegando histórias Shoujo mais leves e com protagonistas mais "inocentes", ficando assim presos num looping em que estamos constantemente tentando provar que "Shoujo também pode ser maduro e ter histórias pesadas" e não me entendam mal, cada qual tem seu próprio gosto pessoal e muita gente realmente prefere histórias mais densas, mas eu também preciso dizer que a gente não precisa provar nada a ninguém! Precisamos sim lutar para que a demografia tenha mais reconhecimento, até para podermos ter mais diversidade de mangás da mesma, mas é só isso, reconhecimento! Não precisamos provar que shoujo é isso ou aquilo, isso já está mais que provado, seja com números, pesquisas ou o que for. Não deixem as protagonistas "inocentes" ou as histórias leves de lado, elas também tem tanto valor quanto as histórias densas e protagonistas maduras.
Vamos seguir em frente galera, continuando nossa luta por reconhecimento e indo contra o machismo estrutural que prega que o feminino é inferior ao masculino. Caso vocês queiram se aprofundar mais no assunto, recomendo assistirem o vídeo da Colleen sobre misoginia na Comunidade de Mangá, que é outro assunto que podemos vir a tratar futuramente, infelizmente o vídeo é em inglês, mas vale muito a pena ver.
Misogyny in the Manga Community
Finalizo este texto por aqui, lembrando vocês que estamos no mês das mulheres e que, apesar dos pesares nós continuamos firmes e fortes, com tempos melhores se aproximando para os fãs de demografias femininas, lembrando que este é um texto de opinião baseado em coisas que venho observando a algum tempo, espero ter conseguido transmitir minhas ideias para vocês e também estou aberta a conversar mais sobre o assunto e ouvir o que vocês tem a dizer, vocês sempre sabem onde me achar.
XOXO, Pudim.
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